sábado, 28 de dezembro de 2013

1937 - SÃO JANUÁRIO, SEDE DO RUGBY - ESPORTE EXIBIÇÃO DO VASCO

Em iniciativa inédita, as equipes de rugby do Vasco fizeram a preliminar daquele que viria a ser o "Clássico da Paz"



   Estamos no século XXI - maio de 2013.  Os sócios do Vasco, Marcelo Paiva e André Pedro, do site WebVasco e Marcus Simonini do blog Incondicionalmente Vasco, comparecem ao programa de rádio Caldeirão Vascaíno e expõem o desejo de que o clube possa fomentar em seu estádio a prática do Rugby.

   Agora vejamos o século XX - meados de 1936.  Viajamos no tempo dos registros históricos da memória vascaína e voltamos ao passado há exatos 77 anos.  Dois sócios, dirigentes do Vasco:  Álvaro Loureiro, este como diretor do recém criado departamento de rugby e Cabral de Almeida, preparador da equipe.  Ambos se dispõem à empreitada de difundir o "football rugby" entre os sócios-atletas do clube.


A criação do Departamento de Rugby

   O jornal Diário de Notícias Sportivo, noticiava a 23 de setembro de 1936 que há algum tempo o C. R. Vasco da Gama tomou a feliz iniciativa de criar o Departamento de Rugby, em atitude digna de franco apoio.

   Convocações de sócios-atletas dispostos à prática do esporte são feitas a partir de 10 de agosto de 1936 pelos jornais do então Distrito Federal, que festejam a iniciativa.  O treinamento é feito tanto no estádio de São Januário como na histórica praia de Santa Luzia.

   O próprio entusiasta do rugby, Álvaro Loureiro, também incentivador da prática do ciclismo, da natação e do water-pólo no Vasco, esclareceu em depoimento à imprensa em abril de 1937, o porquê de se treinar na praia:

   "- Desde as vésperas do natal de 36 que eu não reúno os rapazes para treinarem em São Januário.  Dei-lhes férias, bem prolongadas... mas é preciso.


   - Preciso dizer que não temos ensaiado no gramado, entretanto estamos fazendo uns treinos na praia. Coisa leve, apenas para que os rapazes não percam o gosto pelo Rugby.


   - Resolvi esta modalidade de treinamento, visando dois objetivos: o primeiro, para que os Rugby-players tenham mais interesse pelo treino.  Você compreende, na praia eles são vistos pelas mocinhas e daí nascer neles um entusiasmo grande do qual resulta um treino proveitoso.  O segundo objetivo é com os ensaios em público conseguir elementos para o quadro e fans para o Rugby".

   O rugby vascaíno era exibido internamente para a família vascaína entre duas equipes de "quinze" que disputavam entre si. Tais encontros ocorriam nas festas desportivas proporcionadas pelo clube, quando eram exibidas diversas modalidades dos então denominados "torneios íntimos".  A exibição do rugby ainda se deu na preliminar do campeonato juvenil de futebol da cidade do Rio de Janeiro, quando estreiou a 9 de agosto de 1936, em São Januário.


A preliminar do Clássico da Paz

   Diante de tanto esforço, surgiu uma a grande oportunidade de divulgação do rugby ao público em geral.  À 31 de julho de 1937 estava designado o confronto amistoso que a imprensa esportiva da época já nomeava como a "Batalha da Paz" ou o "Clássico da Paz".  Após 4 anos de cisão, Vasco e América iriam disputar a primeira partida entre os clubes de futebol do Rio de Janeiro ligados às antigas LCF - Liga Carioca de Futebol e FMD - Federação Metropolitana de Desportos, que se fundiram para a criação da Liga de Football do Rio de Janeiro - LFRJ.

   A iniciativa vascaína teve repercurssão. Era noticiado que a própria Federação Metropolitana criou a 7 de junho de 1937 o departamento de rugby da entidade.  Os jornais da época anunciaram a preliminar com certo destaque.

   O resultado da apresentação foi controverso, diante da falta de cultura para o esporte que era estranho para o público.  No dia seguinte ao match, os jornais nem se preocuparam em divulgar o score do jogo, mas somente comentários mínimos.

   O jornal "Gazeta de Notícias" afirmava que a "disputa entre os dois "quinze" do Vasco da Gama, revestiu-se de grande sensacionalismo, devido a ser a primeira apresentação nas canchas brasileiras.  Entretanto, falta muito para constituir uma luta empolgante e cheia de interesse como se dá nos Estados Unidos", confundindo o rugby com "football americano".
   O "O Globo" afirmou que os rugby-players do Vasco fizeram um interessante match de exibição, que por várias vêzes entusiasmou a assistência em face das múltiplas peripécias ora empolgantes, ora hilariantes.


Lance da partida de exibição (O Globo)


   Já o "Diário de Notícias" esclareceu que o jogo foi disputado com ardor!  Fato é que não se teve mais notícia de nova exibição do rugby vascaíno para o público em geral, apesar das notícias do funcionamento do referido departamento até o fim do ano de 1939.

   Em 1940 o Conselho Nacional de Desportos passou a reger o esporte nacional e suas modalidades, inclusive o rugby, deixando este de ser praticado no Vasco.

   Por fim, voltando ao século XXI, fica a pergunta! Poderá o Vasco voltar a praticar o rugby?  Se não nos esquecermos do remo (esporte matter), do basquete, da natação, do futebol de salão, dentre tantas outras modalidades esportivas em que o Vasco gloriosamente já se sagrou campeão, a resposta é simples: porque não?





Os rugby-players que se exibiram na preliminar do Clássico da Paz
Equipe Negra (A): Amorim - Xavier - Dario - Luiz - Elisário - Soares - Luciano -
Valdemar - Alexandre - Anjinho - Matelo - Anselmo - Domingos - Almeida e Alicate
Equipe Branca (B): Urbano - João - Duque Estrada - Orlando - Ferramenta - Lobianco -
Antero - Juvenal - Leandro - Gouveia - Rufino - Carvalho - Ferer - Nicolau -
Vencesláu - Ferraro - Murray - Rapuano e Arlindo
Juízes: Álvaro Loureiro e Cabral de Almeida

*texto originalmente publicado em 23/05/2013 - 15h00m no semprevasco.com

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